Não é mera razão. É autoconhecimento.
A racionalidade pura é uma ilusão conveniente. Gostamos de pensar que nossas decisões são fruto de um pensamento lógico, estruturado e imparcial. Mas, na maioria das vezes, estamos apenas utilizando argumentos racionais para justificar escolhas que já foram feitas de forma emocional e instintiva. Nos enganamos ao acreditar que estamos sendo racionais, quando, na verdade, estamos apenas justificando nossos vieses com argumentos lógicos.
Nosso cérebro é uma máquina de criação de narrativas. Quando tomamos uma decisão, seja qual for, buscamos imediatamente construir uma história que dê sentido a essa escolha. Tentamos, primeiramente, nos convencer de que aquela decisão foi correta. Isso é tão poderoso que realmente acreditamos que decidimos baseados apenas na lógica. Mas a verdade é que a lógica entra em cena depois, não antes.
A Lógica Pós-Decisão
No mundo dos investimentos, por exemplo, um investidor pode decidir investir em uma ação porque sente uma ligação pessoal com os ideais e inovações tecnológicas de determinada instituição. Depois, ele constrói uma série de argumentos lógicos para justificar por que aquilo faz sentido financeiramente.
No campo das relações, muitas vezes "racionalizamos" por que uma pessoa é perfeita para nós (ou não), quando, na verdade, já tomamos essa decisão com base em fatores emocionais ou subconscientes. Quer um exemplo palpável disso? Bora lá.
Um homem que se apaixona por alguém pode encontrar uma infinidade de razões para justificar por que aquela pessoa é perfeita para ele:
"Ah, gostamos das mesmas bandas de rock."
"Nossos valores e princípios se alinham."
"Ela me faz sentir especial."
Mas, se a paixão se dissolve, os mesmos fatos podem ser interpretados de forma oposta:
"Nossos gostos são parecidos demais, sem espaço para novidade."
"Nossos valores são rígidos demais."
"Ela não me desafiava."
A lógica é flexível e adaptável à narrativa que queremos contar para nós mesmos. Acredite, meu velho, seja qual for a sua escolha, seu cérebro vai procurar até os confins do mundo uma argumentação lógica para justificá-la pra te convencer de que sua escolha não foi ridiculamente idiota.
O Viés de Confirmação
A ilusão da racionalidade pura também está presente na forma como processamos informações. Temos um viés de confirmação que nos leva a aceitar mais facilmente os argumentos que reforçam o que já acreditamos, enquanto descartamos aqueles que desafiam nossas convicções. O curioso é que, mesmo quando confrontados com evidências contrárias, muitas vezes nos tornamos ainda mais convictos de nossas crenças.
Entender isso é o fundamento para tomar decisões melhores e mais inteligentes. Em vez de presumir que estamos sempre sendo racionais, é mais útil questionar nossas próprias premissas e buscar enxergar a influência de nossas emoções, experiências passadas e crenças enraizadas. O pensamento crítico não está em tentar ser racional, mas em reconhecer nossos vieses e trabalhar para minimizá-los e compreendê-los melhor. Se você vasculhar sua memória, sua história e seu passado, vai perceber que as experiências que vivenciou te trouxeram até aqui. É como uma trilha. O buraco é mais embaixo.
Aprenda a Testar Certezas
Em vez de confiar cegamente na lógica, adote um princípio simples: testar certezas. Questione se a sua conclusão teria sido a mesma se você não tivesse nenhum apego emocional à decisão.
Pergunte-se o que aconteceria se você tivesse nascido em outra cultura, com outra criação, e como isso influenciaria sua visão agora. Se estiver confiante demais em alguma coisa, provavelmente há um viés que você não está enxergando. Persiga o autoconhecimento e as suas escolhas e decisões serão mais certeiras.
Algo cômico que li recentemente é que somos ótimos narradores tentando justificar a história que já escolhemos contar. É realmente cômico. O pior é que é igualmente verdade.
No final, você percebe que a racionalidade pura é uma utopia e te engana muito fácil mesmo. O massa é que essa consciência te torna mais honesto consigo mesmo e, paradoxalmente, mais racional de verdade.
Obrigado por me acompanhar até aqui. Espero que tenha sido útil esse parâmetro e percepção sobre o assunto.